Psicologia Hospitalar e Psicossomática

O adoecimento, seguido de internação hospitalar, às vezes perdura por dias, semanas ou meses. Representa um impacto no continuum de vida do ser humano, tanto do paciente quanto dos seus entes queridos.

A situação hospitalar é totalmente nova e desconhecida para o paciente bem como para os seus familiares, podendo provocar angústias e diversos tipos de temores.

O indivíduo que necessita de um atendimento hospitalar, seja nos casos de ambulatório, na condição de paciente externo, ou como paciente internado, sofre com as exigências, limitações ou enquadramentos que a instituição hospitalar necessariamente impõe. Da mesma forma, sofrem os familiares e/ou acompanhantes.

Justifica-se, pois, que desenvolvamos meios para cuidar dos problemas de natureza emocional do paciente, com o objetivo de eliminar, modificar ou retardar sintomas existentes; de interceder em padrões perturbadores de conduta visando promover um crescimento e desenvolvimento positivo da sua personalidade.

A relevância do desenvolvimento de Serviços de Psicologia no âmbito hospitalar vem de encontro à necessidade de minimizar o sofrimento gerado pelo adoecimento, pelo impacto do diagnóstico (às vezes grave e sem prognóstico de cura) e pela diversidade de tratamentos (por vezes bastante prolongados e dolorosos).

Os atendimentos realizados pela Psicologia Hospitalar visam dar apoio e suporte psicológico tanto ao paciente quanto aos familiares e/ou acompanhantes e à equipe de profissionais da saúde que, na maioria das vezes, necessitam de um espaço onde possam expressar as suas mais diversas dificuldades.

Para uma melhor compreensão de Psicossomática, citamos Luiz Miller de Paiva, em seu livro Medicina Psicossomática, onde define: “Doença psicossomática é uma manifestação expressa predominantemente pelo sistema vegetativo (simpático e parassimpático) ou pelos hormônios (…).

A doença psicossomática não é somente o intento de expressão de uma emoção e sim uma resposta fisiológica das vísceras a constantes estados emocionais”.

Dessa forma, temos que psicossomática “é o estudo pormenorizado da correlação íntima entre psiquismo e as manifestações orgânicas ou funcionais, incluindo reações individuais a certas doenças assim como as implicações pessoais e a sua conduta social motivadas pela doença.” (mesmo autor)

Os somaticistas são levados a considerar, de maneira cada vez mais explícita, o fato de que um corpo, sadio ou doente, é sempre um corpo de relação com o meio, envolvido por emoções, animado por movimentos afetivos, e que os psiquiatras, psicólogos ou psicanalistas, tendem a ver, ao funcionamento somático e nos seus desequilíbrios, um dado constantemente intrincado com a vida psíquica e indissociável da noção de equilíbrio psíquico do indivíduo. Sugerem a importância em buscar na biografia de um paciente e no conhecimento de sua organização psíquica, o apoio para alcançar uma compreensão mais global de sua doença.

Assim, a psicossomática visa estender a compreensão dos fatores de morbidade à esfera psíquica. Não se limita a oferecer ao profissional de saúde, armas suplementares para tratar o corpo ou preservar a sua integridade. É muito mais que isso: a psicossomática valoriza o papel das forças mentais na conservação ou perda do bem-estar de um indivíduo, aumentando assim, o domínio que o homem pode subtrair, por sua própria vontade e livre arbítrio, ao determinismo das leis da matéria; ela desmantela a tendência à repetição, impede a submissão ao incurável, enfraquece o poder da morte.

Para Adolpho Menezes de Melo, psiquiatra, psicanalista, é impossível pensar na promoção da saúde em uma abordagem não psicossomática; se assim ao fizermos, estaríamos estudando um ser inexistente: o ser humano sem psique, sem alma.

Admite a Psicossomática como uma filosofia de trabalho, um plano de vida, uma postura, um posicionamento do profissional diante do seu paciente e mais que isso, diante de pessoas que não sejam seus pacientes. Vê a Psicossomática como uma filosofia de vida.

Compreender os fenômenos psicossomáticos para ele implica necessariamente em que reconheçamos o nosso lugar no universo; que percebamos o que sabemos e o que não sabemos tendo a consciência que quanto mais sabemos, menos sabemos. Essa percepção do que eu sei e do que eu não sei, implica em uma postura de humildade.

Aponta que somente na relação com o paciente, quando aceitamos as suas qualidades e as suas dificuldades, é que podemos percebê-lo como uma pessoa em experiência na vida e respeitá-lo nas suas atuais condições. É dessa forma que poderemos dar o primeiro passo para tentar ajudá-lo.